sábado, 28 de novembro de 2009

Retrospectiva 2009

Estamos findando o ano de 2009 e diante da realidade da cirurgia a que estarei sendo submetido nos próximos dias, resolvi fazer um olhar para trás e relatar os fatos ocorridos, que continuam latentes na minha memória. Assim, para dar maior sentido e quiçá ilustrar melhor esta postagem, resgatarei também a origem de tudo e razão maior deste diário.
Novembro/2008
Mês no qual iniciamos o tratamento pela quimioterapia, apaguei a data exata, lembro-me de uma pessoa pálida e magra chegando à clínica de oncologia para a primeira consulta. Cabeleira cheia e barba grande, conservada assim pelos últimos vinte anos. Sabia que logo a minha aparência não seria mais aquela, tinha conhecimento de que um dos efeitos colatarais seria a queda dos cabelos - depois constatei que seria quedas de todos os pelos do corpo, como se fosse uma depilação total. E eu que dizia, para me gabar da minha cabeleira: "Eu ficar careca?! Só se for por castigo de Deus!" Perdoe-me, meu Deus, se eu blasfemava quando dizia isso. Não queria colocá-lo em teste, apenas acreditava que o montante desses fios não seriam reduzidos por nada. Mas, foram e isso não foi por nada. Tudo tem o seu propósito. Muitas vezes para apreender determinados ensinamentos temos que receber um impacto grande, que certamente refletirá em nossa volta. Confirmei que vinha dando valores a coisas bobas em detrimento da falta de reconhecimento de outras. Olhar para a minha nova imagem, apartir dali, dava-me a certeza da existência de Deus. E a imagem do físico foi suplantada pelo que vinha do meu interior, como um bálsamo amenizando qualquer sentimento que não fosse o da alegria de viver esse novo momento. Aquele mês foi regado pela esperança de que o tratamento seria por um tempo muito curto, estimava que seria feito em três sessões. Cada sessão, de cinco dias corridos, seria repetida no vigéssimo oitavo dia, contado do primeiro dia da sessão. Não sem antes fazer a feitura de novos exames de sangue - para checar a nossa resistência física ao medicamento. As reações vieram fortes, 48 horas após o último dia. Mal estar geral, humor péssimo, ânsia de vômito (não cheguei a vomitar nenhuma vez) e outras inconveniências do organismo.
Dezembro/2008
Apelei para não fazer nenhuma sessão, mas foi um apelo muito íntimo, era na verdade um desejo pessoal que não foi satisfeito porque não era possível naquele momento. Dividi o momento natalino com a medicação, desejando que seus efeitos fossem minimizados - mas não fui atendido em mais este pedido. E veio o Natal e o as festividades de final de ano, eu ali na luta. Tinha umas trezentas aftas na boca que me impediam de falar ou de gritar. Parecia ser o pior momento de toda minha vida. Lembrei do final de 1973, quando a passagem do ano se deu eu estava sozinho, na cidade de Manaus-AM, com apenas 15 anos de idade! E eu achava que tinha sido horrível aquela experiência! O final de 2008 superou, era lastimável o meu estado geral. As reações foram mais fortes que da vez anterior. Mas, venci e emplaquei o ano de 2009!
Janeiro/2009
Nova sessão de quimioterapia, mais cinco dias corridos tomando a medicação intravenosa. Mais reações e mais fortes ainda. A certeza da continuidade do tratamento veio com o laudo do primeiro PET SCAN que fiz no Hospital Sírio Libanês, na cidade de São Paulo. Viajei sozinho carregando na bagagem uma mala cheia de pedido ao nosso Pai e Criador, por intercessão de nosso Senhor Jesus Cristo. Pedi muito que fossem mostradas nas imagens daquela tomografia um estado de cura, para que o tormento desse lugar a satisfação de uma nova oportunidade. Porém, não fui atendido na plenitude dos meus desejos. Acho que deixei uma brecha quando repetia que fosse feita a Sua vontade, não a minha! Estranho isso, pedir uma coisa (querendo que seja daquele modo que estamos pedindo) e ao mesmo tempo dizer "que seja feita a Sua vontade!" Será que isso demonstra insegurança?! Em todo caso não quis contestá-lo e entendi que a vontade Dele era para continuar a quimioterapia.
Fevereiro/2009
Retomei o tratamento com a quimioterapia. Na mesma dosagem do primeiro ciclo (conjunto de três sessões de quimioterapia). Foi a quarta sessão, também de cinco dias corridos. Dessa vez o bicho pegou feio. As reações vieram em dose de elefante. Quase bati a caçoleta, as botas... enfim quase morri mesmo! O veneno para as células ruins afetavam também com a mesma intensidade as células boas, desguarnecidas que estavam pela baixa imunidade do meu organismo. O meu exército estava enfraquecido e aquela batalha estava pondo em risco a minha vida. Não era chegada a minha hora e resisti na UTI do hospital para onde fui levado. Ali foi diagnosticado um quadro de aplasia medular que acarretou uma gastroenterite seguida de um ataque cerebral isquêmico transitório que me deixou parcialmente cego durante alguns dias. Foi um mês marcado de idas e vindas a hospitais, clínicas e consultórios médicos. Chorei muito também. Uma força maior foi tomando conta de mim e superei toda as dificuldades daqueles momentos. A visão foi recuperada dentro do prazo previsto pelo neurologista e a primeira leitura que consegui fazer foi o Salmo 22.
Março/2009
Os acontecimentos ocorridos após a última sessão - internação hospitalar - fez com que o oncologista mudasse o protocolo diminuindo a dosagem e a forma. Trocando a miúdo, reduziu para apenas um dia a medicação intravenosa, aplicada na clínica e a medicação dos outros quatro dias foi substituída por comprimidos de Xeloda 500 mg, tomando quatro cápsulas ao dia, durante quatorze dias. De fato deu certo, as reações foram minimizadas. Uma reação diferente chamou a atenção do meu médico, apareceram listras claras nas minhas unhas das mãos, bem delineadas e chamativas, segundo ele só tinha visto isso através da literatura médica - demorou muito para desaparecer. Restava a falta de apetite, cãimbras, repulsa a gelados e outras menos agressivas. Sempre olhava para aquela que seria a última dose...
Abril/2009
Fui mais tranquilo para quinta a sessão, ia ser repetido o protocolo anterior. Ou seja, a ida a clínica para a medicação intravenosa ficou reduzida a um dia, complementada pelo Xeloda em casa. Ao fim daquela sessão recebia um pacote com 54 comprimidos, a serem injeridos aos pares no café da manhã e no jantar. As reações foram as mesmas, nada de anormal. Passei a ocupar a mente de todas as formas possíveis. Resolvi mudar a aparência do meu carro, que pode ser vista no forum http://www.clubedosiena.com.br/ na seção Turninng/Facelife. Bombou naquele site o resultado das modificações que implementei no meu Siena. Serviu como terapia ocupacional, apesar de ter acelerado o processo de desvalorização do carro. São valores que foram descartados da minha vida.
Maio/2009
Este mês foi especial por vários motivos. O primeiro decorre de ser o mês do meu aniversário natalício, o primeiro na condição de lutador contra esta doença implacável. Cada dia vivido, era como ter que matar um leão a toda hora. Segundo, estava fechando mais um ciclo e renovava a esperança de ver o término do tratamento decretado. Fiz o segundo PET SCAN, desta vez no Hospital Português, na cidade de Recife-PE. O resultado chegou a ser comemorado. O tumor estava inerte, como que adormecido. Mas, por precaução o oncologista resolveu pelo prolongamento da quimio. Mais um ciclo, disse-me ele, estamos no caminho certo. E assim, terminou aquele mês, com a certeza de que viria o terceiro ciclo.
Junho/2009
Talvez tenha sido o melhor do ano. Não fiz quimio. Vieram os festejos juninos, para mim a melhor festa de tradição que temos. Repeti a queima da fogueira na casa da Praia de Jacumã, depois de muito tempo ausente daquela casa. Foi um feriadão muito gostoso e na noite de São João recebemos a visita de muita gente, alguns até ficaram para dormir num quarto improvisado na varanda da casa. Fiz o fechamento das paredes com plástico preto, o mesmo usado na construção civil. Parecia que não tinha nada, graças a Deus sem nenhum sintoma de nada. Muito bom mesmo aquele período do ano.
Julho/2009
Retomei a quimioterapia. Mesmo protocolo anterior. Mesmas reações. O interessante era o "choque" que eu sentia nas mãos quando pegava em algo gelado. Ingerir gelados nem pensar, era desagradável mesmo. Creio que seja efeito do xeloda, não sei. Só sei que sentia assim. Para ocupar a mente e ver o tempo passar, fiz algumas obras em madeira. Aproveitei para presentear a minha mãe com um altar feito de madeira e revestido com palitos de picolé, feito por mim. Também nesse mês recuperei uma cadeira infantil, cobrindo-a toda com palitos de picolé e foi dada de presente para a Ana Vitória (minha neta).
Agosto/2009
Chegou e passou assim sem novidade alguma. E isso é motivo de ser especial, por ter sido sem intercorrências médicas. Só a ida à clínica para a sessão de um dia e novamente sem reações estranhas. Um mês digno de comemoração mesmo. Contrariando o dito populart que diz que agosto é o mês do desgosto... Nada disso, para mim foi ótimo. Alugamos a casa da praia por um período de três meses, o inquilino pretendia comprá-la ao fim do contrato.
Setembro/2009
O mês findou trazendo a derradeira sessão de quimioterapia. E hoje gostaria de está tendo que fazê-la, pode isso? Explico no tópico seguinte.
Outubro/2009
Depois de muita dificuldade consegui fazer mais um PET SCAN, também na cidade de Recife-PE, ainda no Real Português - como também é conhecido. E o resultado trouxe preocupações na certeza de que a quimioterapia por si só não foi capaz de eliminar totalmente o tumor. Era preciso partir para algo mais invasivo: uma cirurgia para extirpar a parte ruim que resiste em ficar.
Novembro/2009
Ficou marcado pelas idas a consultórios médicos, laboratórios e clínicas especializadas tudo para avaliar a possibilidade de fazer a cirurgia hepática e os seus preparativos preliminares. Ainda ontem fiz o último desses exames, os resultados serão mostrados ao cirurgião para então ser marcada a data da internação hospitalar. Um mês inteiro na ansiedade, torcendo para que tudo transcorra da melhor forma, com a graça de Deus.

De forma bastante resumida fiz um relato dos fatos. É possível fazer uma leitura dos posts que foram publicados em cada um desses meses, estão todos gravados e disponíveis neste blog. Para tanto basta fazer rolar a página para baixo. Boa leitura, fiquem com Deus!

Nenhum comentário: