domingo, 30 de novembro de 2008

Domingo

Dia de reflexão, de oração, de meditação e tantos outros de paz, para a maioria das pessoas. Almoço em família, confraternizações e encontros de amigos. Para mim, não tem sido diferente. Fiz minhas orações, refleti. Também arrumei os documentos pessoais, contas pagas, documentos nas pastas suspensas. Uma espécie de limpeza para tentar arrumar as coisas. Aproveitando os dias de melhoras que temos, após as sessões da quimio.

Resolvi adiar para amanhã, considerando o dia de alegria que representa o domingo, os relatos das sessões e seus efeitos. Todo mundo sabe que não é fácil para quem está em tratamento como para quem acompanha de perto o paciente. Peço a Deus, diariamente, pela saúde dessas pessoas, dando-lhes paciência e tolerância para suportar as nossas inquietações.

Tenham todos um bom domingo!

sábado, 29 de novembro de 2008

A quimioterapia I

Tem um dito popular que diz que as coisas não só acontecem com as outras, pode acontecer conosco também. É consciência popular. Daí o sentimento natural de solidariedade de muita gente. Pode sorte, pode ser um infortúnio qualquer. Nada depende de nós! E tudo tem uma razão de ser!

Quando se trata de abalos na nossa saúde, muitas vezes, incrédulos, nos perguntamos: Por que isso está acontecendo justamente comigo?! Sentimentos de culpa afloram e, outras vezes, apelamos, alegando sermos um bom cristão, tentando uma explicação lógica para o fato. Esquecendo, porém, que tudo tem uma razão de ser!

Comigo, acho que foi justamente isso que aconteceu diante da notícia médica informando-me da necessidade de partir para um tratamento à base da quimioterapia. Esta possibilidade não havia sido dita em nenhum momento do pós-operatório. Por isso, talvez, tenha sido maior o choque. Compreendi, entretanto, que dependia do resultado da biópsia do material que fora retirado do meu estômago, que demorou cerca de trinta dias para ser entregue pelo laboratório. A torcida de todos que me cercam era pelo resultado negativo de qualquer coisa que fosse maligna ao meu organismo.

Finalmente o resultado da biópsia foi entregue e, ante a ansiedade de todos, procuramos decifrar de todos os modos o que ali estava gravado. Mas, somente o médico cirurgião, Dr. Gilson do Vale – em nome de quem saúdo os demais membros da sua equipe, de forma acolhedora, como sempre atende aos seus pacientes, falou da necessidade de encaminhar-me a um médico oncologista.

Naquele momento caiu a ficha. Não ficaria apenas na recuperação da cirurgia, “o meu caso” era maior do que imaginávamos. Era caso de quimioterapia. Logo imaginei que haveria queda de cabelos, perda de peso, e outros efeitos colaterais, até então, visto apenas em pessoas próximas ou em filmes, novelas e em outros enredos. Confesso que nunca me imaginei naquelas situações, acho que é natural, uma espécie de defesa da mente, não sei!

Entretanto, a constatação da realidade não me abalou, claro que lá bem no íntimo pode ter mexido com os meus nervos. Mas, encarei os fatos e de imediato estava com a primeira consulta marcada com o oncologista. Não precisei consultar nomes de especialistas, aceitei de pronto a indicação inicial que recebi. Afinal, eu estou nas mãos de Deus. O profissional é o instrumento, o norte a ser seguido. A cura é divina, quando se acredita nela. E eu acredito que estou curado, basta apenas seguir as orientações e ter paciência, perseverar em Cristo. Assim agindo estarei fazendo a parte que me cabe para ajudar no tratamento. Alguma coisa eu tenho que fazer, não?!

O fato não pode ser visto como castigo de Deus, mas como elevação espiritual, que certamente trará a felicidade, sentimento que deve perdurar sempre na nossa vida. Viemos para esta vida para sermos felizes, percalços existem, nessa busca pela felicidade – mas são superados na Fé em Cristo!

Amanhã continuarei...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Oração da Fé

Senhor Deus, criador do céu e da terra!
Poderoso é o vosso nome, grande é a vossa
misericórdia!
Em nome de vosso filho, Jesus Cristo, recorremos a vós,
neste momento, para pedir bênçãos para a nossa vida.
Que a divina luz incida sobre nós.
Com vossas mãos retirai todo o mal, todos
os problemas e todos os perigos que estejam
ao nosso redor.
Que as forças negativas que nos abatem e nos
entristecem se dedesfaçam ao sopro da vossa
benção.
O vosso poder destrua todas as barreiras que impedem
o nosso progresso.
E do céu, vossas virtudes penetrem no nosso ser, dando paz,
saúde e prosperidade.
Abra, Senhor, os nossos caminhos.
Que os nossos passos sejam dirigidos por vós para que nós não
tropecemos na caminhada da vida.
Nosso viver, nosso lar e o nosso trabalho, sejam por vós abençoados.
Entregamo-nos em vossas mãos poderosas,
na certeza de que tudo vamos alcançar.
Agradecemos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém!!!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A Folia dos remédios

Era uma tarde de domingo de verão, finalzinho mesmo, a casa estava vazia, seus donos tinham saído para refrescarem-se na beira-mar, para receber a brisa marítima. Com certeza só estariam de retorno tarde da noite.

A lua cheia, com seus reflexos no mar, motivavam ainda as pessoas a permanecerem na praia admirando toda aquela formosura da natureza.

De repente, uma das portas do armário da cozinha abriu. Empurrada de dentro pra fora, libertando, inicialmente, quem a forçou. Parecia sufocado, estava dentro de um tubo plástico todo enrolado em papel alumínio e, ainda, dentro de uma caixa de papelão. Era o REDOXON, de temperamento forte como todos os ácidos, que rolou para fora daquele armário repleto de outras caixas de remédio e de cartelas de comprimidos. Aliviado, saiu chamando pela DIPIRONA. Acho que os dois mantinham um romance desde a primeira dose que foram juntos.

Não demorou, saiu o OMCILON-A para prevenção dos dois, caso viesse a rolar algum beijo, coisa NATUREBE em qualquer romance.

A DIMETICONA, solteirona de longa data não achou nada engraçado e tratou de ficar num canto revendo as suas indicações e os seus efeitos. Não quis acordo quando chegou o OMEPRAZOL, todo pomposo, convidando-a para jantar fora, garantia que ele a protegeria de qualquer incômodo que viesse a sentir. Na negativa inicial, não desistiu e clamou ajuda ao GASTRIUM para fazer-lhes companhia, dando assim reforço ao convite.

Nada convencia a madame a sair para jantar, nem mesmo a chegada do PANTOPRAZOL, primo do convidante. Ela queria mesmo era ficar quieta, aproveitar a liberdade, de estar fora daquele armário.

Feliz, a TAMARINE percebeu que os seus olhos estavam lacrimejando muito e de pronto chegou ao seu lado o LACRIFILM todo solícito e pronto a aliviar qualquer incômodo naqueles olhinhos escuros.

Alguém teve a idéia de colocar um MP3, com flash back dos anos 70, para recordar os velhos tempos. E a festa começou a rolar.

A FLAVONID aceitou o convite para dançar com o BUSCOPAN, que já se tocavam sempre
quando movimentavam as caixas naquele armário escuro, acho que era amor reprimido. O clima entre eles foi tão intenso que rolou de tudo, foi preciso a ajuda do XYLOPROCT e do XILODASE para aliviar as conseqüências.

Enjoado de estar sozinho o VONAU, chamou o seu parceiro, PLASIL para dar uma geral em todos, assim se certificariam de que nenhuma sujeira ficaria pela casa, evitando contra-tempo quando as pessoas retornasse do passeio.

Quando chegaram perto do NORIPURUM, este achando-se o ferroso quis armar barraco, chamando todos para um saírem daí, mas como não tinha chefe nem comandante geral o movimento não poderia ser classificado de MOTILIUM.

Foi uma confusão geral, parecia mais uma indigestão, vieram, então, para o deixa disso, o DISGEPRID, primo da BROMOPRIDA que dançava coladinho com o FELDANAX.

Na festa rolou muito romance e sobrou para o LABEL acabar com os bichinhos de boca. A coisa tava esquentando mesmo!

Era preciso muita calma nessa hora e do nada apareceu, oponentemente, o LORAX para por fim aquela folia toda.

E todos voltaram, sonolentos, para cada uma das suas caixas, algumas cartelas perderam-se pelo caminho de volta. Mas, no final estavam todos de volta ao armário, prontos para serem usados, alguns, naquela mesma noite, para o contentamento dos donos da casa que acabavam de chegar.

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Nota do Autor:
Os nomes em negrito correspondem aos remédios que estão no meu armário, alguns foram usados antes da cirurgia, outros no pós-operatório e outros, agora no processo da quimioterapia, sempre vou conhecendo um diferente, a cada sintoma que me aparece, após o encerramento de cada ciclo de cinco dias.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Súplica de um Enfermo

Senhor, estou enfermo.
Não tenho nuita resistência à dor,
Pois ela me impacienta,
Faz-me perder o equilíbrio,
Fico fraco, tenso, medroso,
Solitário e angustiado.
Oh! Senhor,
Que soubeste sofrer no silêncio
Quando da entrega ao Pai,
Dá-me força para aceitar e superar
Esta enfermidade.
Senhor das dores,
Alivia-me, conforta-me,
Não me deixes só,
Neste instante,
Quero sentir tua mão a segurar a minha,
Trazendo paz e sossego à minha alma,
Sinto a respiração ofegante
A ansiedade invade o meu ser.
Vem com teu divino hálito
E faz-me reviver e revivendo possa eu olhar
A tua face dizendo-me que estás em mim,
Curando-me, livrando-me de todos os males.
Faz-me repousar emti, para que eu possa dormir
Com a certeza de que verei teu rosto
Ao amanhecer.
E que o amanhã certamente será de vitória,
Pois estarei pronto a seguir-te
No louvor e agradecimento da vida.
Assim seja! Amém!

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Aos que sofrem de câncer!

São EZEQUIEL MORENO é considerado o Advogado dos que sofrem de câncer. Ele nasceu na Espanha, em 1848 e morreu em 1906, vitimado por um câncer no nariz. Foi canonizado na cidade de São Domingos, no dia 11 de outubro de 1992, pelo Papa João Paulo II, por ocasião da celebração do V Centenário de Evagenlização da América.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O Estômago

Poupar o nosso corpo!
Clique nos links ao lado para ler pelas primeiras postagens!

Antes de entrar no assunto da quimioterapia, seus efeitos colaterais e incômodos em si, na perspectiva de subsidiar outras pessoas que estão ou venham a fazer este tipo de tratamento, gostaria de lembrar que o meu problema inicial é de ordem gástrica, ou seja, o órgão afetado foi o estômago. Razão pela qual dedico este capítulo, ilustrado, e com poucas palavras para que dêem o devido valor a este importante órgão do aparelho digestivo - não posso mensurar uma escala de valor para cada um, mas hoje sei o quanto ele realmente é importante para todos nós. E o quanto nós o massacramos no nosso dia-a-dia.

Falta-nos orientação criteriosa para evitarmos tantos estragos no nosso organismo, seja ele estômago (ingerimos, muitas vezes, verdadeiros "venenos", como refrigerantes e outros ácidos), fígado (consumimos bebidas de alto teor alcóolico - para que?!) , coração (desconsideramos a necessidade de pausar, de parar para descansar e evitar o stress que tanto prejudica a nossa saúde), enfim, na maioria das vezes somos o nosso próprio vilão, inconsciente, mas somos!

O texto a seguir tem fonte na Internet, bem como as fotos que aparecem neste tema.

Definição

"O estômago é uma bolsa de parede musculosa, localizada no lado esquerdo abaixo do abdome, logo abaixo das últimas costelas. É um órgão muscular que liga o esôfago ao intestino delgado. Sua função principal é a decomposição dos alimentos. Um músculo circular, que existe na parte inferior, permite ao estômago guardar quase um litro e meio de comida, possibilitando que não se tenha que ingerir alimento de pouco em pouco tempo. Quando está vazio, tem a forma de uma letra "J" maiúscula, cujas duas partes se unem por ângulos agudos."


Doenças do estômago


"As doenças e problemas gástricos do estômago são numerosos: úlcera, câncer, a dispepsia (indigestão gástrica), tumores malignos e benignos (raros), gastrite, afecções decorrentes das cicatrizes das úlceras curadas, etc."

A retirada cirúrgica do estômago ou parte dele chama-se gastrectomia, foi justamente este procedimento que ocorreu durante a minha cirurgia, aqui já relatada. Palavra pomposa que implicam em grandes consequências na vida de uma pessoa.

Faço parte, agora, do grupo de pessoas que merecem pagar apenas metade do preço nos rodízios... se essa moda pega, vão fazer carteirinha dos "gastrectomizados"... e a foto?! Deve ser do interior da barriga, melhor capturar uma dessas aqui publicadas.

Agradecimentos

Obrigado, Colégio Geo!

Além de agradecer às pessoas que estão a minha volta, meus parentes próximos, minha mãe, meu pai, minha esposa atual, minhas filhas, meus irmãos e irmãs, tios, primos, sobrinhos, cunhadas e cunhados, ex-esposa, sogra, amigos de outrora, amigos do trabalho, etc... quero aqui expressar meus agradecimentos especiais aos alunos de Jack - a maioria na inocência da sua infância, mas que têm demonstrado uma grandeza de espírito e sensibilidade que as tornam grandes e especiais.
Apesar de muitas delas nunca terem me visto na vida, mandam recadinhos nas provas que realizam, fazem redações com pedidos de recuperação para o marido da Tia Jack. Alegam que estão em oração juntamente com seus familiares, torcendo pela minha saúde. Isso é solidariedade, é amor fraternal que todas as crianças conhecem muito bem e que precisa ser valorizado para que sempre esteja presente ao longo de suas vidas.
Aos alunos do GEO, em especial aos do Geozinho - como são chamados, ao corpo diretivo e aos demais membros dessa conceituada Escola, deixo registrado o meu enorme agradecimento pela força que nos tem dado e pela tolerância inconteste durante o processo da minha cirurgia, quando liberou a Tia Jack para que ela pudesse ficar me acompanhando, o que tem feito com muita boa vontade.
Muito obrigado!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Reflexão

Uma historinha pra você refletir:

Uma vez, Chico Xavier passava por problemas que pareciam não solucionar nunca.Ele aproveitou um momento que mantinha contato com Emmanuel, seu mentor e amigo espiritual e disse:
- Emmanuel, por favor, interceda por mim junto à Nossa Mãe Maria e peça a ela um conselho, pois não consigo resolver este problema.Emmanuel disse que veria como poderia ajudar o Chico.Dias depois, Emmanuel volta e diz:
- Chico, já tenho a resposta de Nossa Senhora!Chico então, se prepara pra receber a mensagem vinda da mais alta esfera celestial... pega papel e caneta e diz que Emmanuel já poderia ditar os conselhos da Mãe.Emmanuel então diz:
- Chico, Maria disse pra você ter calma que isso também vai passar!

sábado, 22 de novembro de 2008

O apoio das pessoas

Durante todos esses últimos meses, tenho recebido apoio sincero de inúmeras pessoas. Muitas delas próximas a mim, minha família em geral, sem deixar ninguém de fora, os amigos de outrora e aqueles que acredito ter conquistado no meu local de trabalho. Isso tem sido muito importante para o meu tratamento, para a recuperação da minha saúde.

Se fosse possível gostaria de agradecer a cada um pela manifestação de carinho e zelo, percebida por mim em cada um dos seus gestos e tolerância. A todos da minha equipe e aos meus superiores, expresso o meu agradecimento pela vibração positiva que têm emanado de si voltada para o meu completo restabelcimento físico.

Espiritualmente, estou renovando! Isso deve-se aos acontecimentos e ao apoio moral que tenho recebido. É como se eu estivesse renascendo, sendo cuidado por todos e isso precisa ser recompensado de minha parte. E é o que tenho buscado fazer, recompensar a todos que estão olhando por mim, isto tenho feito da forma que tenho aprendido: orando, pedindo a Deus as suas bênçãos para cada um!

Saibam que cada palavra de apoio a mim dirigida tem servido de forma medicamentosa para apressar a minha cura, apesar de saber que tudo tem a sua hora. Deus tem o seu tempo, que pode ser diferente do nosso! Fico apenas no aguardo da cura, que está garantida com a graça de Deus.

Obrigado a todos e a todas! Não posso nominar as pessoas para não cometer injustiças!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Proctologista

Como disse ontem, por conta dos distúrbios anais, fui recomendado a consultar um médico proctologista para avaliar os estragos provocados pelo esforço nos momentos da evacuação do

bolo fecal. Tratei de contactar com um médico amigo, para que o clima fosse o mais descontraído e de confiança possível. Na hora aprazada, estava eu lá no consultório, perturbado com a situação, com o ânus dolorido. Fui logo avisando que não seria possível qualquer possibilidade de toque - acho que estava mais constrangido com a idéia de ser tocado na parte mais íntima do homem.

Feitas as anotações médicas, de praxe, conversa vai, conversa vem, fui orientado a entrar na sala ao lado e inclinar-me numa cadeira estranha. A posição que eu fiquei era bastante comprometedora - rosto para baixo encostado no colchão, quase de joelhos. Pronto, pensei lá vem bomba. Veio a auxiliar de consultório e ela mesma, pedindo licença, abaixou a minha roupa e fiquei ali por alguns segundos imaginando o que viria depois. Ouvi quando o doutor calçou luvas e falou que iria somente examinar... acreditei! Mas, não foi bem assim! Foi preciso aplicar uma medicação no local e algo foi introduzido para permitir a dilatação. Vi estrelas!

O constrangimento era grande. Felizmente não durou muito tempo e eu já estava recomposto e mais aliviado pelo efeito da medicação anestesiante.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Pós-operatório

A cirurgia foi realizada no dia 19 de setembro, por volta das 11 horas da manhã, era sexta-feira. Fiquei na UTI até o domingo, por volta do meio dia, quando fui encaminhado para um apartamento. Durante a semana que se seguiu foi uma rotina danada. A todo instante, várias vezes ao dia, uma enfermeira verificava a minha a pressão, temperatura e fazia o teste de glicose, furaram todos os meus dedos das minhas duas mãos - inclusive de madrugada. Cheguei ao ponto de indicar o dedo de Jack, minha esposa, para ser furado! Outras vezes eu escondia as mãos por debaixo dos lençóis...

Uma equipe de enfermagem fabulosa aquela, todas muito atenciosas. Não se esquivavam de nenhum dos nossos pedidos. Sentia carinho nos procedimentos que faziam. Muito importante para a elevar a confiança no hospital. Agradeço a todas, sem excessão.

Retirada a sonda do nariz, fiquei plugado por uma das veias próximo ao pescoço para receber soro e a medicação diária, além do dreno na barriga. O meu primeiro banho, no apartamento, foi sentado numa cadeira, quase morrendo sufocado quando a água fria escorria pela minha cabeça. Jack estava ao meu lado, me auxiliando, me dando sustentação. Aquela mangueira do soro presa ao pescoço, tinha seu curativo renovado juntamente com o curativo da cirurgia e do dreno. Tudo feito com todo cuidado pela enfermagem.

A minha alimentação era toda aquela, soro e medicamentos durante cinco dias corridos, não engolia nada, nem líquido. Portanto, só precisava urinar. Não produzia nada para que o intestino deletasse. E nas horas de urinar, tinha a ajuda de Jack que trazia o famoso papagaio (urinol para homens) por baixo dos lençóis, literalmente, eu caprichava e às vezes quase enchia o danado. Devolvido o recepiente, lá vinha Jack com as mãos encharcadas de água e sabão para fazer a assepsia das minhas mãos... dava duas viagens ao banheiro, a última com água para retirar o excesso do sabão e enxugá-las com papel toalha. Achava aquilo muito belo, um ato de amor e de carinho, além de simples zelo.

Após o quinto dia, fui avisado que entraria numa dieta líquida. A princípio fiquei animado, passaria a usar a minha boca para alimentar-me novamente. O que veio foi um copo descartável, 100 ml, com um suco ralo de verdura - foi explicado que seria apenas a água da fervura das verduras. Orientaram-me a não beber de uma vez, apenas de gole em gole até o organismo ir se adaptando a maiores quantitades. E sempre usando canudinho. Horrível o sabor, ou melhor, sem sabor algum, triste mesmo! Passaram a alternar com chás e sucos. A cada três horas vinha um copo desses para eu tomar... chegava a ponto de acumular, por ter sido rejeitado por mim. Eu queria experimentar algo sólido... não era preciso ser uma picanha ou mesmo uma feijoada, mas que fosse algo de sustância! Já tinha a certeza de que doravante esses pratos estão fora da minha dieta... Foi assim durante toda a semana, até o dia da minha alta, que ocorreu também numa sexta-feira, o que soma oito dias sem nada no estômago, até ali.

Com a minha alta recebi da nutricionista todas as orientações de como seria a minha dieta, que continuaria líquida até a visita médica no consultório quando eu seria avaliado. Prescreveu duas fontes energéticas, líquidas para ser tomada três vezes ao dia, alternando com sucos e o caldo dos legumes, só caldo da fervura. Os energéticos, segundo ela, eram fontes de proteína pura. Pense no sabor desagradável, mesmo misturado com sorvete e batido no liquidificador. Fui perdendo peso, naturalmente. Não conseguia ingerir muito bem aquelas coisas, e era só o que eu podia!

Aguardava ansioso pela primeira visita ao consultório médico, afinal esperava sair de lá liberado para comer alguma coisa... tá já comendo meus dedos de tanta vontade de comer algo consistente! A visita ocorreu no décimo dia após a cirurgia, quando então foi liberada uma dieta pastosa. O caldo passou a ser de verduras liquidificadas, portanto, de melhor sabor. Chás e bastante suco também foi recomendado.

O intestino precisava voltar a funcionar. Mas ele precisava de insumos, o que ele poderia expelir além de gases. Nada. O pior estava por vir... quando passou a receber os insumos desejados, a primeira peça... chamada, popularmente, de número 2... produzida saiu rasgando tudo! Parecia um parto! Foi assim durante a semana inteira... e sempre aos pares! Ir ao sanitário passara a ser um ato de muita coragem. Descobri, pelo próprio instinto, que era devido a um dos medicamentos que eu estava tomando... talvez, eu tenha sido inspirado nas cores idênticas - do remédio e do produto manufaturado pelo instestino. Comprovado na consulta médica seguinte que mandou suspender o seu uso. Mesmo assim, aqueles momentos (sentado no vaso sanitário) de puro heroísmo ainda perdurou por mais alguns dias. A sensação era bastante insuportável e perdurava ao longo do dia. Imaginei que havia rompido algum vaso anal. E a visita ao protoctologista foi inevitável.

Amanhã eu conto como foi essa visita!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A cirurgia

Então, um final de semana inteiro naquela tensão de fazer uma cirurgia, de certa forma, de urgência era para ficar mesmo muito tenso. Pensava nas piores coisas que poderiam ocorrer. Silenciosamente, tratei de organizar meus documentos, seguro de vida, seguro do automóvel, documentos bancários, enfim, deixar todos numa só pasta no arquivo para facilitar as coisas. Foi assim mesmo, afinal, as palavras do médico foram bem taxativas.

Acontece, que ao meu lado está uma grande mulher, que tem me dado muita força espiritual, muito apoio moral mesmo. É nessas horas que o companheirismo vale muito mais que qualquer outra coisa. Você sente firmeza no seu andar, percebe que não está sozinho nessa luta.

Na semana seguinte, segunda-feira, logo cedo, ao chegar ao trabalho compartilhei o meu problema e confirmei o pensamento de ouvir uma segunda opinião médica, até para esclarecer melhor a situação e nos deixar mais tranquilos quanto aos procedimentos que deveríamos adotar. Recebi total apoio e solidariedade dos meus chefes e dos colegas de trabalho. Pareciam que já sabiam da gravidade e o que vinha pela frente. Larguei tudo e fui tratar da minha saúde. Agradeço a cada um pela compreensão e pelo apoio moral que tenho recebido desde então.

Naquela mesma manhã consegui uma consulta com o outro médico, na verdade com o que vinha me acompanhando há alguns meses, mais receptivo, naquele dia, o mesmo ratificou a fala do médico anterior - o que fez a endoscopia. Orientou-nos a procurar um cirurgião geral, levando aquele exame, para que ele então conduzisse a situação dali para frente. O médico sugerido também me recebeu para consulta naquele mesmo dia - estávamos muito apreensivos e sabíamos que o caso requeria pressa.

Um grande cirurgião foi posto por Deus a nossa frente. Ele viu cuidadosamente a endoscopia, fez a parte clínica completa. Somente após tudo examinado, passou a solicitar outros exames de praxe para a cirurgia, de sangue e risco cirúrgico (cardiologista), consulta com o anestesista, tomografia computadorizada, raios X do tórax. Deixou agendada a cirurgia para a sexta-feira daquela mesma semana, pois segundo ele, daria tempo para fazer e receber todos os exames e consultas necessárias.

Foi uma semana de muita correria, Jacqueline - minha mulher, passou a acompanhar-me nesses dias todos, após garantir licença no seu trabalho (professora de rede privada de ensino) em dois colégios. Uma barra para mim saber que o emprego dela poderia ficar em risco, considerando tratar-se de empresa privada. Mas, felizmente o diretor de cada escola entendeu a situação e concedeu-lhe quinze dias de licença. Uma benção que agradecemos de coração a cada um deles e a Deus, principalmente, por ter tocado o coração deles.

Voltando um pouco. Na sexta-feira, na hora aprazada, com todos os exames realizados, demos entrada no Hospital combinado. Já estavam lá duas pessoas amigas do meu trabalho, a Márcia Rique juntamente com a Fernanda. Fui acompanhado, naturalmente, por Jacqueline, logo em seguida chegaram minhas filhas Priscila e Pollyana. Era pouco mais das sete e meia da manhã. Aguardamos então os procedimentos para a internação hospitalar enquanto mais pessoas amigas iam chegando para saber de mim, para dar apoio. Nesse momento senti o quanto eu estava sendo amado e uma forte emoção tomou conta da recepção do hospital - foi divino! Ganhei de presente, da Fernanda, uma pequena (grande) imagem de Nossa Senhora das Graças, após ela perguntar-me se eu queria recebê-la. Claro que eu gostei da lembrança e do seu ato delicado de levar-me proteção de uma Santa.

Com o apartamento liberado, nos dirigimos todos para os preparativos preliminares do ato cirúrgico. Lembro que oramos, pedindo proteção divina. Chegada a hora de apartar-me de todos, vesti ou melhor cobri minhas partes com uma roupa feita de "tecido não tecido" - TNT, aberta, apenas uma toalha escondia as minhas partes íntimas. Chorei quando me conduziram na maca para o centro cirúrgico - ali fiquei por longa hora à espera do cirurgião e da sua equipe. Lembro que falavam de pedido de almoços para a equipe - isso me norteava no tempo, apesar de está já pré-anestesiado para minimizar a minha ansiedade. Depois de um tempo, apaguei geral e só tenho lembranças do momento que despertei de verdade num leito da UTI - procedimento de praxe depois de uma operação de tal porte. Isso já foi no dia seguinte. Se acordei ainda no dia da cirurgia não tenho nenhuma lembrança. As lembranças são da manhã do sábado, bem cedinho da manhã, que passo a contar abaixo.

Como disse já estava num leito da UTI quando depertei após a operação de retirada do meu estômago. Duas auxiliares de enfermagem chamaram pelo meu nome e disse que me dariam um banho. Ai de mim, o mundo parecia que tinha caído sobre mim. Olhe a cena. Eu, nu, numa cama de hospital, ar condicionado ligado, duas mulheres estranhas me dando um banho, me virando de um lado para o outro da cama... acho que eu parecia mais com um mamulengo naquela hora. Senti o quanto não somos nada em determinados momentos da nossa vida. Mas, mesmo nesses momentos devemos dar graças por estarmos tendo a oportunidade de vivenciá-los. Saber que a vida estava continuando me conformava e aceitava, sem reclamar daquele banho invasivo.

E o pior foi quando percebi que na minha uretra havia enfiado alguma coisa... era uma sonda para coletar a urina. No meu nariz tinha mais duas coisas enfiadas, uma era do aparelho de monitoramento da UTI, e outro era um catéter que descia de goela abaixo - fiquei sabendo que esse catéter serviria para alimentar-me nos primeiros dias do pós-operatório. Seria um canal de comunicação de muita importância com o que sobrou do meu estômago. Também conectado à minha barriga pelo lado direito, havia um dreno coletando os resíduos líquidos da área cirurgiada. Carreguei esse dreno durante todo o período da internação, levando para casa após a alta hospitalar até que foi retirado pelo cirurgião no seu consultório, para alívio geral daquele desconforto.

Na UTI tinha apenas uma pessoa que estava no leito ao meu lado direito. Não sei se era um homem ou uma mulher. O sábado passou demorado. Pela manhã recebemos o material de higiene enviado por Jacqueline e a tarde recebi a visita dela e das meninas, além da visita de Chintia e de Socorro, esta eu não conseguia visualizar perfeitamente. Do lado de fora ficaram Socorrinha e a Nilda, que não puderam entrar pelo excesso de pessoas.

No domingo logo cedo, após o banho matinal, fui surpreendido pela visita da minha querida Jacqueline. Ela tinha nos olhos um brilho incrível, que refletia o amor que sentimos pelo outro.
Parecia uma menina trelosa, feliz por ter conseguido entrar na UTI em horário fora de visita. Foram poucos minutos, mas o suficiente para renovar a minha fé, a minha alegria de viver e a vontade de sair logo dali. Inesquecível mesmo aquele momento, que mais parecia uma miragem.
Mas, era de verdade!

Naquela mesma manhã do domingo recebi alta da UTI e fui removido para um apartamento, não era o mesmo no qual havia dado entrado, este era bem menor, apertadinho mesmo. As meninas se empenharam e logo conseguiram mudar para um apartamento maior e mais arejado. Parecia que estavam advinhando pois apartir da dia seguinte inúmeras foram as visitas que recebi - chegaram a trinta pessoas num único dia. Tinha momentos de ter cinco, seis pessoas me visitando. Uma graça de Deus tantos amigos preocupados e orando por mim.

Vale registrar a visita do meu primo Herton, ainda no domingo, acompanhado da sua namorada Natália e do seu filho Pedro, vieram da cidade do Recife-PE. Todo cuidadoso falava comigo imaginando que eu não estivesse ouvindo... eu não podia falar direito devido ao catéter que continuava enfiado goela abaixo, mas estava ouvindo tudo perfeitamente. Aproveitei isso para tirar sarro da cara dele, para quebrar o gelo do hospital. Todos riram muito com aquela situação.

Na hora do primeiro teste de refeição, via catéter, a equipe de enfermagem não conseguiu retirar o guia do interior do catéter por onde desceria o líquido para me alimentar. Isso representou um contra-tempo que foi contornado pelo médico, sem muitos danos para mim, apesar do incômodo daquela situação - manter um catéter que não teve serventia alguma. O momento da retirada foi traumático e surpreendente, a coisa tinha mais de meio metro... quando eu imaginava que tinha apenas alguns centímetros.

Esqueci de relatar que ainda tinha na minha barriga, do lado direito, um dreno para coletar os resíduos líquidos da área cirurgiada. Uma mangueira de silicone saia de barriga a fora, ligado a uma bolsa, que por sucção fazia a aspiração desse líquido avermelhado. Não me incomodava muito, acostumei logo com aquela situação que perdurou durante toda a internação - uma semana e mais alguns dias, quando, finalmente, teve a sua retirada pelo médico em seu consultório, na primeira consulta após a minha alta. Ainda não havia recebido o resultado da biópsia do material que foi retirado no ato cirúrgico. Estávamos todos na expectativa daquele resultado da biópsia.

Continua...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Introdução


Hoje estou iniciando meu primeiro blog. Terei um segundo?! Poderia então dizer que estou iniciando meu diário virtual... melhor assim!

O que devo postar nele?! Pensei em relatar as minhas últimas experiências... mais especificamente sobre o problema de saúde que estou vivenciando, relatando desde o seu início, conforme consta nas minhas lembranças.

Qual o objetivo disso?! Talvez chamar a atenção das pessoas para as possibilidades reais das coisas acontecerem também conosco. Lembrando, porém, que tudo tem uma razão de ser! Não é porque aconteceu comigo que vai acontecer com você ou com outrem. Porém, estar informado é sempre bom. É como prevenir-se para evitar. Por isso resolvi socializar a minha situação atual na tentativa de diminuir o número de incidências dentre aqueles que passarem a ler e a saber do que me acontece atualmente. Não tenho intenção que não seja esta explicitada acima. Uma espécie de alerta na esperança de que ela possa servir para alguém.

Feitas estas considerações iniciais ouso então passar a relatar a minha história.

Nasci em Teresina-Pi, no ano de 1957, tenho então 51 anos de idade. Moro na cidade de João Pessoa - PB há mais de 40 anos, depois de ter morado em algumas outras cidades, como Boa Vista-RR, Manaus-AM, Campinas-SP. Meu nome é Edson Leite, filho de pais vivos, éramos 6 irmãos. Um falecido, mais velho que eu, desencarnou muito jovem, aos 39 anos, vítima de acidente de trânsito na cidade do Rio de Janeiro, nos idos de 1995. Ano em que começou o meu problema de saúde.

Naquele ano descobri que estava sofrendo de gastrite, achava que era emocional. Os sintomas vinham e desapareciam assim do nada. Fiz um tratamento a base de medicação farmacêutica tradicional e também adotei alguns regimes populares, como suco de batatinha, óleo de copaíba e outros mais que nem me recordo. O primeiro deles, suco de batatinha posso dizer que ainda lembro do sabor repugnante... só ingeria se tapasse o nariz e tinha que ser em jejum.

O tempo passou, precisei refazer a endoscopia - acho que dois anos após. Tendo sido diagnosticado "pan-gastrite". Novo tratamento ou melhor repetição do protocolo anterior, exceto o suco de batatinha...

Os anos foram passando e eu alimentava uma estranha sensação de cura, apesar de algumas vezes sentir os mesmos sintomas. Quando então recorria ao óleo de copaíba, anti-ácidos comuns. E tocava a vida.

Perdurou essa situação até o mês de agosto de 2008. Pensando bem, muito tempo se passou para que realmente eu percebesse o quanto deveria ter me cuidado mais, feito exames mais periodicamente. Enfim, não fiz nada disso. Foi quando, como dito em agosto que percebi a gravidade do meu estado. Retornando ao consultório médico e realizada a terceira (quando poderia ter sido a décima, décima-primeira, sei lá) o médico não fez caras boas e foi logo dizendo que era caso de cirurgia, e logo! Isso era uma sexta-feira, à noite. Repetindo as palavras do médico: "Isso é caso de operar. Vá prá casa, diga a sua mulher que você precisa se internar na segunda-feira para ser operado na terça-feira. Indico o Dr. Fulano de Tal que opera em tal hospital, aonde dou plantão. Estarei lá na ssegunda-feira, é dia do meu plantão."

Após ouvir essa "boa" notícia no final de semana, procurei chão e retornei para casa pensando seriamente no que vinha pela frente. Pela leitura do laudo da endoscopia, pelas palavras do profissional, pude perceber que o caso era na verdade muito grave.



Continua...