terça-feira, 28 de junho de 2011

Na Oncoclínica

Estou de volta à Oncoclínica e, neste momento, aguardando a minha hora para a consulta médica depois de quase três meses de ausência. Preciso me orientar e aceitar de uma vez a necessidade de continuar com o tratamento que foi interrompido por força maior, apesar de não ter achado ruim esta suspensão. Falando em suspensão, bem que a quimioterapia podia ser como na época do colégio... quando os atrevimentos eram castigados com suspensões. Eu seria um grande atrevido! O perigo é que hoje, na vida real, estas suspensões representariam um grande perigo à saúde e não simplesmente uma reprovação de ano. O melhor mesmo, e mais politicamente correto é não pensar em ser atrevido!
Principalmente quando temos um batalhão de pessoas torcendo pelo nosso sucesso (alguns anos a mais de sobrevida). É isso que significa a superação dos traumas e entraves provenientes da maldade desta doença. Ter esta consciência ajuda bastante durante todo o tratamento. Não adianta tentar rejeitar ou negar a realidade depois que ela se mostra, ou seja, se recebemos o diagnóstico de sermos portadores de alguma malignidade, devemos aceitar o fato e partir para o confronto com todas as armas disponíveis.
Serão momentos de altas e baixas que deverão ser encarados com toda serenidade possível, sem desespero, o nosso estado emocional conta muito - sendo diretamente proporcional ao resultado de cada tratamento, isto é, quanto mais sereno, mais chance de ganhar pontos neste vídeo-game real.
Logo mais teremos novidade, na verdade, creio que tratará apenas da data do recomeço - tenho me imaginado carregando na cinta, debaixo do baixo, em cima da cabeça, não sei precisar o local exato no qual será acomodada a bombinha com o precioso líquido. Nem sei se terei que me conectar a uma tomada elétrica ou se a danada dessa bombinha é alimentada por baterias ou com feijão e farinha. O que sei é muito pouco sobre ela, mas dentro em breve seremos apresentados e melhor que haja amor à primeira vista!
Mais tarde relatarei como foi a consulta desta manhã, me aguarde!

ALGUMAS HORAS DEPOIS...

Conforme prometido, cá estou de volta para falar da consulta. Foi bastante tranquila, falamos dos linfonodos aumentados que foram detectados na última TC realizada e do que isso representa no contexto atual. A presença de dois deles em tamanhos superiores a 1 cm arregala os olhos de qualquer médico que acompanha um paciente nas minhas condições atuais. Não é motivo para preocupação, tampouco podemos desprezá-los. Uma coisa é certa, não vale a pena ir para uma mesa cirúrgica, retirar um pedacinho dele e mandar para o patologista analisar! O que importa mais nesse momento é cuidar para que o nódulo existente no fígado não cresça mais do que já cresceu, a esperança, na verdade, é que ele seja eliminado! Nem que para isso seja necessário um tiro de canhão, certeiro para evitar estragar outra parte do organismo. O dificil é encontrar um atirador com tamanha perícia!
Bom, agora estou esperando que o plano autorize a utilização da bomba infusora (viu só, outro artefato bélico) para reiniciar a ingestão dos quimioterápicos. Tou nem aí... tou feito baiano misturado com mineiro, sem pressa pra nada. Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa! Fiquem com Deus! 

domingo, 26 de junho de 2011

Mamografia pelo SUS


Uma matéria publicada no jornal "Diário de Pernambuco", edição de 25/06/2011, chamou a minha atenção não só pelo fato de ver estampada nela o nome de um amigo Adalberto Fulgêncio, com quem dividimos a diretoria estadual do GEAP Saúde/PB, no ano de 1993, atualmente exercendo o cargo de Diretor do Departamento Nacional de Auditoria do SUS - DENASUS, mas pelo tema da reportagem. A matéria em si, mais parece um raio x de um dos problemas enfrentados no SUS e dispensa qualquer comentário da minha parte, que não seja o da indignidade de ver como são irresponsáveis muitos gestores desse sistema de saúde.
Assim como encontraram mamógrafos sem utilização, muitos outros equipamentos podem estar nas mesmas condições. Infelizmente, sabemos que muitos técnicos que trabalham nessa área de assistência à saúde danificam os equipamentos para ver io circo pegar fogo. Enfim, é uma questão cultural que precisa ser exorcisada desses profissionais, assim como determinadas práticas médicas que são flagradas como verdeiros atentados à vida, na contra-mão do juramento à Hipócrates.
Para melhor visualização do texto, clique sobre ele! Fique com Deus!

De volta à realidade

Após ter passado o feriadão na cidade do Recife-PE, na mordomia do hotel, estamos de volta ao aconchego do lar. Foram três dias diferentes, pelo menos fora da rotina diária, sem perder de vista que eram momentos para recarregar a bateria para poder continuar enfrentando o que chamamos de realidade.
Estávamos, eu, Jack e Thais, na condição de convidados de Siliu e Nonato - ela, irmã mais velha de Jack e lá nos encontramos com outra parte da família delas, Cissa, Tito e os filhos com as respectivas esposas.
Uma tranquilidade a cidade, sem o estresse do dia-a-dia recifense, a maioria das pessoas procuram passar os festejos juninos nas cidades interioranas, deixando a capital deserta para acolher os visitantes!
No hotel nos deparamos com o cantor Leonardo que deveria ter ido à cidade para fazer algum show. Muito diferente pessoalmente, honestamente não o reconheci de imediato - pensei que era um outro cantos de músicas sertanejas.
Depois de quase três anos (tempo do tratamento) não resisti ao apelo visual e resolvi comer um acarajé! Estava fora do meu cardápio devido ao camarão que abunda no recheio, eu vinha evitando comer essas e outras guloseimas culinárias, como o crustáceo em geral, carnes gordas, macaxeira e molho de pimenta. Percebi que podia abrir mão desses cuidados e voltar a devorá-los de forma não muito voraz. Aos poucos e em pequenas quantidades. Como se estivesse testando o resultado. Como ainda continuo com o metabolismo alterado, vou me garantindo de todo jeito com Florax, Imosec... queijo... florax... banana... e assim vou balanceando a dieta de modo a procurar manter sob constante vigilância tudo que entra para ver como vai sair! Não tem sido fácil, porém isso não me deixa abalado nem abatido. Digo e repito, me manterei em pé até quando Deus permitir. Não irei me prostar antes da data.
Amanhã será o início de uma nova semana (na verdade a semana começa hoje) e ela poderá me trazer grandes novidades. Retornarei ao oncologista na terça-feira e a depender de alguns detalhes reiniciarei a quimioterapia na quinta ou sexta-feira. Como será a primeira vez que utilizarei a bomba infusora via catéter, vou solicitar que seja iniciada na segunda-feira vindoura, para evitar correr riscos desagradáveis.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cirurgia???

Uma obra de arte: são os meus pulmões!
Nas minhas últimas postagens ficaram no ar a possibilidade de voltar ao bloco cirúrgico para a retirada do nódulo no fígado. Era preciso investigar a fundo e assim foi feito, literalmente, além do exame no fundo (colanoscopia) foi feito também exame na caixa tóraxica, abdome total e por ai afora.
Ontem, de posse do resultado de todos os exames retornei ao cirurgião para ouvir o veredicto médico. Não sei se comemoro ou se choro diante do que ele me falou a respeito de poder fazer a cirurgia ou não. Há muito que entreguei a Deus qualquer que fosse o encaminhamento, que prevaleça a vontade Dele. Claro que temos as nossas predileções, mas não podem ser impostas nem mesmo requeridas, não temos conhecimento de nada - muito menos acerca das coisas divinas. Os nossos temores não podem ser maiores do que a certeza da existência de um Deus misericordioso que tudo sabe, afinal é o nosso Criador e como tal sabe o que estar nos reservado para esta vida que aqui vivenciamos. Então não tenho o direito de dizer que quero isso ou aquilo, como fazem as crianças diante de várias possibilidades. Crescemos, somos adultos, temos consciência e discernimento para enfrentar todas as situações, mesmo que ela venha com dissabores ou gosto aparentemente amargo.
Portanto, a negativa da cirurgia me empurra automaticamente para retomar com o tratamento com a quimioterapia. E foi justamente este o veredicto: Neste momento, a cirurgia não é o procedimento mais indicado! O melhor mesmo é retomar para a quimioterapia.
Junto com a sentença vieram as explicações para justificar o encaminhamento. Na verdade foi a constatação de um fato novo que norteiou aquela decisão: o aparecimento de linfonodos na região do abdome!
Isso é preocupante? Pergunto eu, para em seguida responder que preocupante é saber de determinados acontecimentos que continuam recorrentes na sociedade sem que alguém apresente uma solução definitiva. Viver na insegurança social é tão ruim quanto receber o diagnóstico de uma doença qualquer. Todos estamos entregues nas mãos de Deus, sem Ele tudo é preocupante por demais.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Querido Blog!

Meu querido e estimado Blog! Passei por aqui para falar de uma coisa que suspeitei desde o início da nossa amizade... descobri que você é um baita fofoqueiro! Tudo que lhe confio, tudo que lhe conto logo cai no mundo. Você não sabe guardar nenhum segredo. Tem a boca rasgada.
Mesmo assim, continuo considerando a sua amizade muito importante para mim. A minha ausência não tem sido em razão da confirmação dessa suspeita, isso até me agrada - sem saber você acaba sendo a minha válvula de escape e de comunicação com o mundo que continua girando ao meu redor. Provando que a luta ainda continua, que estou tendo a sorte e a alegria de permanecer nesse círculo vicioso: dormir, acordar, comer, trabalhar... descansar, comer novamente, novamente dormir e novamente acordar. Falei em trabalhar, isso mesmo, para quem não sabe continuo trabalhando. Claro que não com o mesmo pique de antigamente, mas com a mesma vontade de poder continuar sendo útil. Muita gente pergunta por que não me aposento, se tenho esse direito por lei, e a resposta é imediata: não estou inválido para o trabalho. Posso, sim, ter "adquirido" o direito de... mas dele abro mão por vontade própria!
Encontro no meu local de trabalho um ambiente acolhedor que me impulsiona e me motiva no dia-a-dia. Sem falar nas pessoas com as quais convivo durante as horas do expediente, o apoio de cada uma é muito importante nesse processo todo.
Bom, voltemos a você querido fofoqueiro. Quer saber das novidades para espalhar aos quatro cantos do mundo? Na verdade, eu poderia ter deixado para escrever estas linhas somente amanhã, porém, tamanha era a saudade que resolvi acordar você a esta hora só para dizer que amanhã pegarei o resultado das suas tomografias que fiz na segunda-feira. Elas dirão se é viável ou não a realização da segunda intervenção cirúrgica no fígado. Se o nódulo estiver na extremidade, irá para a faca feito bucho nas mãos do cangaceiro. Confesso que estou meio ansioso, sem saber pra quem torcer. Não fazer a cirurgia implica no recomeço da quimioterapia... dessa vez com o uso da bomba de infusão. Afinal o catéter está posto e a postos, aguardando. Qualquer uma das opções deve ser respeitada e aceita, encarada de frente. Como tenho dito, podemos até ficar ansiosos em momentos, todavia, não podemos entregar os pontos nunca.
E aí, o que me diz? Vai ficar calado agora? Não vai responder nada sobre o que lhe falei? Não se preocupe, não estou magoado por saber que você é um bucho furado, afinal, também tenho o bucho furado por duas vezes. Somo amigos e estamos juntos nessa luta pela sobrevivência, eu com com as minhas falhas e você com as suas - quem não as tem, não é mesmo?
Vai, grita pra todo mundo saber que estou me sentindo bem... que amo a vida e adoro tudo que faço e as pessoas que me amam! Também te amo! Fica com Deus!

domingo, 12 de junho de 2011

Santo casamenteiro

O mês de junho para o nordestino representa as festividades religiosas/pagãs relacionadas com vários santos: Santo Antônio, São João e São Pedro. O primeiro deles é o responsável, segundo as tradições, pelo arranjamento matrimonial. A maioria absoluta das pedidos de casamento partem das mulheres, acho que por serem maioria são fortes concorrentes nesta busca pelo acasalamento, pelo menos não encontramos muitos relatos de homens que fizeram promessa para conseguir encontrar a sua companheira.
Particularmente adoro a chegada dos festejos juninos. Costumava acender uma fogueira com os galhos de mangueira, cajueiros, goiabeiras e outros paus secos que catava pelos sítios nos meus momentos de infância. Por mais que cuidassemos de cobrir aquele arranjo de paus empilhados, escorados nas suas extremidades e, muitas vezes, amarrados com arames, não tinha jeito para a chuva que sempre cai na noite de São João, ou melhor, na véspera, quando repetimos a passagem bíblica anunciando o nascimento do precussor.
Nem sempre o fogo consumia toda a lenha durante a noite, o que restava era guardado para compor a fogueira para São Pedro. Este, infelizmente, perdeu prestígio entre a maioria da população dos grandes centros urbanos. Podemos dizer até que "não tem mais São Pedro como antigamente!"
As comidas típicas feitas com o milho enche de sabor a mesa do nordestino, canjica, pamonha, pé-de-moleque, milho assado na brasa da fogueira e tantas outras guloseimas regadas a quentão, são recordações que sempre guardarei na minha memória. Como também as velhas brincadeiras como subir no pau de sebo em busca do prêmio fincado no seu topo, saltar pelas brasas acesas ou queimar fogos de artífícios.
Quero registrar, porém, que foi em São Luiz-MA que vi os festejos juninos mais bonitos e carregados de tradição do folclore brasileiro. O Boi-bumbá. Orquestras com os mais variados tons e sons, como o da matraca que não quer calar, faz com que o povo tente imitar a coreografia encenada pelas dançarinas vestidas como indígenas e adornadas com cocares exuberantes nas apresentações públicas feitas ao longo de todo o mês, praticamente. Vale a pena conhecer.
Fico por aqui nas minhas lembranças rogando ao Pai que nos cubra com o seu manto sagrado. Amém! 

Veja o vídeo abaixo!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Rabo de lagartixa

Ainda bem que não é rabo de foguete! Lembrei desse membro da família dos Geconídeos por me encontrar novamente diante da iminência de ter que cortar mais um pedaço do meu fígado... e para que este volte a crescer pensei em começar a tomar chá de rabo de lagartixa! Estou pagando pelos inúmeros rabos que, com a minha pontaria certeira de menino moleque, arrebentei com a minha baladeira ou atiradeira ou, ainda, estilingue. Não importa como é chamada, mas essa arma nas mãos da meninada era fatal para as infelizes lagartixas que se arrastavam pelos muros salpicados ou pelos postes de iluminação do bairro. Às vezes o erro provocava apenas a ruptura de uma parte do raba da bichinha... Muitas vezes nós cruzavámos novamente os nossos caminhos, nós com a arma na mão e ela de rabo novo, balançando a cabeça como se estivesse zombando da gente.
A qualquer pergunta que era feita, ela sempre respondia afirmativamente com o balançar da cabeça. - Lembra de mim? Era a primeira pergunta. E não era que a danada balançava a cabeça afirmando que sim?! Sabe que sou mau? Novamente vinha a confirmação. Sem remorço algum a coitada passava a ser de novo o alvo da baladeira afoita. Se tivesse a sorte de encontrar um buraco nos tijolos, estava salva dos seus algozes, pelo menos adiava aquela conversa sem fim.
Como disse, isso ocorria nos tempos de menino moleque. Hoje, bem que eu gostaria de nunca ter arrancado o rabo de nenhuma delas. Felizmente não me traz trauma por reconhecer que tudo tem sentido e uma razão de ser. Aprendemos com esses episódios macabros o processo de regeneração único no reino animal.
O fígado não cresce, como parece quando dele se corta uma parte, na verdade ele se esparrama para ocupar o espaço que ficou vazio, dando a falsa impressão de crescimento.

Vamos deixar essa prosa de lado e falar sério agora. Depois de peregrinar pelo gastro, fazer a colonoscopia, endoscopia, exames de sangue e ultrassonografia do abdomem, retornei para o cirurgião atendendo recomendação do gastro para avaliar a possibilidade de retirar o nódulo que, segundo a ultrasson encontra-se, na ponta direita do fígado - local de fácil acesso para o bisturi.
Sai do consultório do cirurgião com a requisição para realizar duas tomografias, uma do tórax e outra do abdomem, para ver se se confirma a localização do tumor que, graças a Deus, parece ter estacionado. Sabemos da evolução rápida desse tipo de tumor quando não tratado. Claro que entreguei a Ele, nosso Pai Celestial, dar a resposta que o médico busca encontrar nesses exames. Se for da Sua vontade irmos para a quarta cirurgia, iremos confiantes!
O que mais me incomoda é ter que passar pela UTI ao término da cirurgia, mas se já passamos por três momentos diferentes por essa Unidade de Terapia, mais uma vez não será motivo para me desanimar. Aprendi que não devemos ter vergonha de nada nesta vida, principalmente quando se trata de uma coisa inevitável. Se temos que acordar com uma sonda na uretra, vestido numa fralda, tomar banho na cama e ficar dependente de gente estranha para tudo... que assim seja! O importante é saber que nada é eterno, que não ficarei ali pelo resto da vida e por mais demorado que possa parecer, terá um momento final. Um momento de reencontro com os familiares, com os amigos e com todos os seus pudores.
É a vida, do jeito que ela vem para cada um de nós e deve ser vivida com alegria e enfrentando todos os obstáculos. É o rabo da lagartixa!
Fiquem com Deus!