sábado, 14 de novembro de 2009

Dia do Professor



Esqueci de tecer comentários na passagem do Dia do Professor - 15 de Outubro, o que passo a fazer agora. Todos nós sabemos da importância desse profissional no seio de qualquer comunidade. No passado era mais respeitado, apesar de nunca ter tido devido reconhecimento. Digo isso por ter passado pela experiência gratificante do convívio em salas de aulas durante quase uma década.
Iniciei a minha carreira no magistério de uma forma interessante. São coisas que ficam gravadas para sempre na nossa mente e às vezes passam como um filme. E como toda história tem começo, meio e fim. Essa também teve.
Nos idos dos anos setenta retornei para João Pessoa, na condição de ex-aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, tendo saído por jubilamento – tendo perdido, assim, dois primeiros anos de estudo do 2º Grau. Naquela escola, localizada na cidade de Campinas-SP, eu estava separado da família por milhares de quilômetros, a saudade suplantava qualquer esforço para a concentração nos estudos e o resultado eram as repetidas notas baixas. Eu não conseguia superar a vontade de voltar para casa, para junto dos meus pais e irmãos. Eu tinha naquela época pouco mais de quinze anos de idade, era um menino ainda. Tudo era diferente de hoje: não tínhamos celular, nem mesmo telefone fixo que certamente amenizaria o banzo que eu sentia; viajar somente seria possível de avião para vencer a grande distância e não existia a TAM nem a GOL com as suas promoções de hoje...
No meu retorno fui repetir, pela terceira vez, o primeiro ano e matriculei-me num colégio estadual da cidade. Quando cheguei, as aulas já haviam iniciado há quase um mês, e na condição de repetente não seria difícil acompanhar a turma. Dito e certo, ao invés de dificuldades, tornei-me um dos melhores alunos do colégio – com destaque para a disciplina que mais me perseguiu naquele passado próximo: a matemática. Passei a dar aulas particulares para alunos das séries anteriores, tendo iniciado com o filho de uma então professora minha. Logo o número de alunos cresceu e o meu interesse pela matéria foi aumentando. Dois anos depois, ainda cursando o terceiro ano do segundo grau, surgiu uma chance de entrar numa sala de aula na condição de professor substituto para lecionar matemática nas turmas de 5ª a 8ª séries. E mais uma outra disciplina: desenho geométrico. Sem dúvida, foi um grande desafio.
O contrato era para substituir um professor, amigo meu, durante um período de quarenta e cinco dias – no qual ele estaria engajado em outras atividades acadêmicas. Tamanho foi o meu empenho nessa árdua tarefa do ensino que acabei ganhando a vaga por mais três anos seguidos... Mudei de escola, a convite do mesmo amigo Giovanne, para assumir turmas de 7ª série. Nesse ínterim, já na qualidade de professor de matemática, prestei meu primeiro vestibular na Universidade Federal da Paraíba, com aprovação para Bacharel em Matemática – não poderia ser outro curso, era até uma questão moral conquistar aquela aprovação e o fiz com louvor. Mais uma vez deixei evidenciado que o problema não era de assimilação da matéria! Ao mesmo tempo em que cursava Matemática, tinha que, no outro expediente, executar a tarefa de Professor – e fazia ambas com muita dedicação, amor e responsabilidade. Na faculdade, quando era comum a repetição de matérias por vários semestres, encarei o desafio de fazer diferente, e juntamente com outros três colegas de turma, íamos vencendo os bichos de uma só tacada. As disciplinas iam sendo vencidas a medida que íamos tendo acesso a elas, os semestres iam, assim, sendo vencidos um a um. Certamente eu teria me graduado em Matemática, mas os ventos sopraram em outra direção. Obtive aprovação em concurso público nacional, promovido pelo antigo DASP, e acabei ingressando no quadro do extinto INAMPS (hoje absorvidos pelo Ministério da Saúde). Diante da nova realidade profissional, passei a trabalhar nos dois expedientes e obrigatoriamente deixar a faculdade que funcionava somente durante o dia. Assumi o emprego público no mês de setembro de 1982 e naquele mesmo ano prestei meu segundo vestibular, dessa vez para o curso de Economia, tendo sido novamente aprovado para a mesma universidade e passei a ser aluno no período noturno. Escolhi este novo curso pensando na possibilidade de crescimento dentro do Instituto, por meio da ascensão funcional para nível superior – que nunca tive a oportunidade de ver! Com o advento da Constituição de 1988 foi extinta esta possibilidade de crescimento para o servidor público.
Voltemos ao tempo de professor. Foram anos de muita dedicação, cada movimento era um flash – para plagiar a personagem vivida por Mara Manzan. Foi muito bom viver todos aqueles momentos, quando havia respeito mútuo. O professor passava a sua matéria e o aluno estudava e seguia as orientações que recebia, tanto dos professores quanto dos auxiliares de disciplina da escola.
Aos poucos, porém, eu presentia que as coisas não continuariam assim por muito tempo. Algo de novo estava por vir. E hoje eu sei que realmente muitas coisas mudaram e ser professor é cada vez mais desgastante, tem sido uma tarefa mais espinhosa para aqueles que desempenham de verdade este papel de suma importância. Para os menos compromissados não tem diferença alguma, tanto faz como tanto fez – no dito popular.
O meu afastamento das salas de aula foi providência divina. Aconteceu no tempo certo. Acompanhando os noticiários e depoimentos dos que hoje labutam na área do magistério percebemos as mudanças; parece que quebraram o velho respeito e o afrontamento passou a ser uma ferramenta corriqueira na vida de muitos estudantes. Eu diria que houve uma inversão em todos os números de avaliação se pudermos compará-los! Em razão disso tudo, podemos dizer que o exercício do magistério passou a ser uma atividade de muito mais valor – não digo de mais valia, pela falta do reconhecimento oficial. Claro que muitos profissionais do futuro vão continuar passando por todo esse processo de aprendizado, assim como foi para os que estão exercendo hoje as mais diversas atividades. Falo nesse momento é das dificuldades de ser um professor atuante e compromissado com a formação do aluno.
Os professores de hoje são muito mais heróis do que fomos nós do passado, hoje precisam disputar com todas as parafernálias modernas – celulares, i-podes, notebook, mp4, 11, 12... sei lá quantos mais, que distraem e abstraem os pensamentos do alunado.
Aos professores contemporâneos dedico este desabafo saudoso, aos professores atuais desejo muita sorte! Fiquem todos com Deus!

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