quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desabamentos

Quando me deparei com o diagnóstico do câncer parece que o mundo desabava sobre a minha cabeça. Procurei forças para enfrentar aquela situação, imaginando o que viria pela frente. Hoje, diante das notícias do deslizamento de mais um morro na cidade de Niterói, ocorrida na noite de ontem, soterrando um número ainda desconhecido de pessoas e lendo os depoimentos das que escaparam me dou conta de que ali sim, o mundo desabava de forma literal e aterradora sobre as suas cabeças. Pondo um ponto final na vida de muita gente, levando consigo os seus sonhos e os sonhos dos que sobreviveram a esta tragédia humana.
Olho para mim e percebo que também sou um sobrevivente de um drama que teve início naquela fatídica sexta-feira, setembro de 2008, dia em que recebi o resultado da endoscopia e o prognóstico do médico para o ato cirúrgico. Passado esse tempo todo ainda não recuperei a plenitude da saúde! É certo que estou estabilizado, sem intercorrência alguma que traga preocupação. Posso dizer que estou na fase, como chamamos nós da comunidade, do controle. Esperando a data da próxima consulta, para checar através de exames o nosso estado real - o que está no miolo do organismo.
Ao ver o drama daquelas pessoas, chorando desesperadamente pela vida dos seus parentes que não conseguiram sair a tempo, vejo o quanto sou pequeno quando pensei que o mundo havia caido sobre a minha cabeça. E me revolto quando escuto uma autoridade afirmar que aquelas pessoas poderiam ter evitado a situação... colocando as vítimas como sendo culpadas!
É o mesmo que dizer que sou culpado pelo câncer que contrai no estômago... por ter ingerido tanta coca-cola, por ter ingerido tantos salgadinhos, por não ter ingerido mais alimentos livres de agrotóxicos... e não é bem assim! Muitas coisas acontecem na nossa vida, não temos ingerência sobre tudo que nos cerca e não podemos, muitas vezes, evitar que elas aconteçam. Mas, se acontecerem, paciência. O jeito é encarar de frente, sem temores de dias piores, acreditando sempre na recuperação do que se estamo perdendo naquele momento e recomeçar a jornada. E assim tenho me portado, por acreditar que é uma das alternativas que tenho, a melhor alternativa mesmo.
Peço a Deus pelas pessoas que se foram no Morro do Bumba, peço a Deus pelas pessoas que me caras e queridas e por todos aqueles que me cercam. Pedir é bíblico e sempre lembro de agradecer por tudo aquilo que Ele tem me mostrado, num sinal de que estou vivendo e isso é importante, reconhecer que estamos vivendo e saber fazer de cada momento algo de novo e de positivo para que tenha valido a pena vivê-lo.
Aproveito para agradecer a você que tem acompanhado este blog. E dizer, para aquele que chegou aqui em busca de alguma informação pertinente ao título que foi dado a este diário, que nunca tive a pretensão de desenhar a doença, procuro apenas deixar registrado algumas experiências julgadas por mim interessantes, ao mesmo tempo que faço comentários acerca dos diversos acontecimentos que continuam acontecendo ao meu redor, seja a que distância for. Muitas vezes o blog pode parecer um jornal... a forma que se apresenta a um pode ser diferente para o outro... não importa. Quero apenas mostrar que o câncer não nos incapacita para pensar, refletir e traduzir em palavras escritas os pensamentos que extraimos desses momentos.
O caso das pulseiras coloridas, por exemplo, escrevi algo sobre o tema já há bastante tempo... por entender que poderia ser uma contribuição minha àquelas pessoas que leem estas páginas, julguei importante o tema e, hoje, constato que tinha razão ao ver que o assunto estar em evidência em rede nacional!
Bom, encerro por aqui, da forma tradicional desejando que todos encontrem a paz em Deus, ficando com Deus! Amém. 

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