terça-feira, 15 de junho de 2010

Copa do Mundo de Futebol

Não precisaria nem ter acrescido "de futebol" ao título desta postagem, todos relacionam "copa do mundo" ao torneio mundial de futebol, são 32 nações com os mais variados costumes, línguas e tradições que disputam entre si o título de campeão do mundo, a cada quatro anos. Quem me conhece pessoalmente pode estar estranhando eu estar fazendo esta postagem abordando este tema. É que todos sabem que não curto e nem assisto a nenhuma partida de futebol, desde quando tomei consciência do que ocorre nos bastidores desse esporte tão difundido aqui e em outros países do mundo.
Mas, como sempre procuro expressar o que penso de determinadas datas comemorativas ou de eventos com grande repercussão, não poderia deixar deixar passar em branco esse momento de comoção nacional. Poderia ter feito alusão à abertura dos jogos na África do Sul, deixei para comentar a estréia da seleção brasileira por achar que seria mais fácil discorrer sobre o que penso disso tudo. Claro que são impressões pessoais e, assim como ocorre na crença ou na política partidária, não pretendo ter a verdade absoluta ao meu lado e nem prezo pelo convencimento de outrem. 
Permito-me abrir parênteses para dizer que fui torcedor ferveroso na saudosa Copa de 70, lembro da música, dos álbuns de figurinhas que procurava preencher com todas as dificuldades daquela época - andávamos a pé atravessando bairros para comprar os envelopes contendo as figurinhas, três em cada envelope, torcendo para vir a "figura dificil" (sempre tinha mais dificil de aparecer). Fazíamos apostas de resultados e aqueles bolões eram então levados a sério, para garantir a nossa credibilidade. Tudo na inocência da nossa infância. Em pleno regime militar. 
Primeira vez que os jogos estavam sendo transmitidos ao vivo, diretamente do México, de onde a seleção brasileira trouxe a Taça Jules Rimet, juntamente com o título de Tricampeão do Mundo, primeira dentre todas a conquistarem esse título. As estrelas da seleção eram Pelé (na sua última copa, depois de ter quatro participações em copa), Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Rivellino e Tostão. O povo foi ao delírio, a taça era nossa diziam para os quatro cantos do mundo até ela ser roubada e derretida para ter o seu ouro vendido a granel, uma pena, uma grande perda irreparável - o que ficou foi uma réplica, não tem o mesmo valor, não foi a erguida e beijada pelo nosso capitão da seleção, Carlos Alberto Torres.
Os mais antigos, com idade próxima a minha reconhecem facilmente quem é o homem  que estar dividindo a taça com o Carlos Alberto, na foto ao lado, praticamente em primeiro plano, é o então presidente do Brasil - general Garrastazu Médici. Governou o país com mãos de aço, reprimindo o povo brasileiro desprovido de seus direitos de cidadãos. Veio o slogan: Brasil, ame-o ou deixe-o! Enquanto o povo idolotrava a seleção e o futebol em si, um grupo de militantes resistiam entrincheirados na guerrilha. Resistiram e foram vencidos, muitos nem tiveram sequer o direito de serem presos e perderam a vida ali mesmo, nos confins do Pará, região cortada pelo Rio Araguaia. Tudo isso pela intolerância dos militares ao partido comunista que procurava se instalar no Brasil. Comunistas era caçados como bicho, condenados e exilados, após passarem, por torturas nos calabouços dos quartéis.
Enquanto isso o povo vibrava cada vez que a bola tocava na rede do adversário. Um brado só ecoava ao som prologando de "ééé gooooooooolllllllllll" Desde então o povo tem recebido como prêmio de consolação pelo menos duas partidas de futebol por semana... uma na quarta-feira, após a novela global, e a outra no final da tarde de domingo. Inventaram diversos campeonatos nacionais e, para ter número de partidas suficientes, ainda garantem a transmissão de jogos de outros países. 
Enquanto menino, eu não percebia o que de fato é o futebol para o povo, na visão dos governantes. Com o  meu amadurecimento, logo descobri a real intenção de manipulação e da manutenção do poder pelo poder. enrustido nas ações dos cartolas e tomadas para si pelos nossos governantes. Não é a toa que em todos os noticiários do dia, de manhã, tarde e noite, tem notícias relacionadas com esse esporte coletivo - não confunda com coletividade. O povo precisa ser alimentado com essa paixão, já que muitas das suas necessidades são negadas ou ultrajadas no dia-a-dia. Então, muitas vezes, um gol abafa qualquer vontade outra que não seja a de festejar. Pode não ter o pão ou a farinha, só não pode ficar sem ver a bola balançar na rede do oponente.
Essa minha constatação afastou-me de qualquer possibilidade de continuar na torcida de qualquer que seja a equipe de futebol. É redonda, rola pela grama, pra mim é bola furada, não me apetece.
No Brasil o negócio do futebol é levado tão a sério que chegaram a anular dez partidas, que haviam sido realizadas já  há muito tempo depois do campeonato, por terem sido apitadas por dois árbitros fraudulentos. Essas partidas foram repetidas para ser validado aquele campeonato. Fazendo um paralelo com a reforma da previdência ocorrida em 2006/2007 -  que feriu direitos dos servidores públicos com corte de benefícios e mudanças de regras. Entre elas, sobretaxas de aposentados em 11%, redução das futuras pensões, aumento da idade mínima para a aposentadoria dos atuais servidores, desrespeitando a tese do direito adquirido -  foi votada e aprovada numa assembléia orquestrada por dezenas de deputados envolvidos no escândalo nacioanl conhecido por mensalão e até hoje impunes. Esta reforma da previdência pelo menos poderia ter sido anulada e levada à votação novamente, a exemplo das partidas de futebol. Dai, constatamos que o futebol tem mais valor que o destino de milhares de trabalhadores públicos, muitos tiveram os seus planos projetados para a aposentadoria alterados e estão obrigados a trabalhar por mais oito, nove e dez anos a mais. Mais um motivo para eu não gostar de futebol.
Será que hoje é diferente? O que mudou depois de dez copas? Afora o sinal digital, que qualifica as transmissões atuais, quais os reais benefícios que justifiquem a paralisação do país em todos os sentidos para ver uma partida de futebol?! O que percebemos é a concentração de rendas nas mãos de poucos, a título de exemplo, um torcedor brasileiro, na condição de trabalhador assalariado, precisaria trabalhar, se fosse possível, por 245 anos para acumular o salário mensal do jogador mais bem pago do mundo, que é brasileiro! E vamos comemorar o gol e torcer pelo hexa da seleção, pelo menos o povo vai aprendendo os prefixos matemáticos de origem grega. Logo mais vão sonhar em ser hepatacampeão mundial! Fique com Deus.


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