segunda-feira, 6 de julho de 2009

A cadeira


Recentemente ajudei na mudança da minha cunhada e lá descobri uma cadeira infantil, feita de madeira, bastante machucada pelo tempo. Como ela não tem mais criança, imaginei que aquela cadeira ali estivesse ociosa, afinal falta-lhe uma criança! Não vacilei e logo perguntei qual estava sendo a utilidade da cadeira, na esperança de barganhar uma possível troca - tiro e queda! A sua serventia estava sendo para "suporte de ventilador". Disponho de vários banquinhos de madeira, envernizados e propus a troca por um deles... e foi aceita a proposta.
Para que eu quero uma cadeira infantil?! Claro que foi pensando na Ana Vitória, minha primeira netinha, que eu negociei a cadeira, pois a imagem dela me veio de imediato à mente e a visualizei sentadinha, rabiscando ou brincando com bonecas...
Como disse o estado da cadeira não era dos melhores, precisava de um tratamento de recuperação com uma repintura ou coisa assim. Tomei para mim a tarefa e me pus a raspar toda aquela tinta (na verdade mais de uma tinta, pelas cores que começavam a aparecer). À medida que o trabalho evoluia eu me dava conta da sua importância. Era como se fosse uma terapia para mim, mais que isso!
É a vontade que eu tenho de viver, afinal compartilhar esses momentos com Ana Vitória é ter vencido. Assim como para mim uma vitória ver o seu nascimento, ela que me acompanhou, quando estava ainda no ventre da mãe, nas idas aos hospitais, nas sessões de quimioterapia, torcendo por mim. Creio até que ela sabia, assim como eu ansiava, que haveria sim o nosso encontro aqui. Que nós teríamos um tempo de convivência, não sabemos a sua duração, claro. Mas a esperança era grande motivadora para a minha recuperação, não me deixando abater.
Como nós precisamos de motivações outras, vejo que esta cadeira tem um significado muito maior que a simples lembrança ou um presente. É como se ela fosse o passaporte para um tempo mais a frente. Falando uma linguagem mais clara, sobrevida maior!
Todos nós desde o nascimento marchamos contra o tempo, somando a idade, nunca pensamos no tempo que nos resta. Agora, quando somos acometidos de uma doença, como a que foi diagnóstica, queiramos ou não passamos a contar o tempo como sendo um dia mais, um mês a mais... querendo poder contar um, dois... anos a mais! Os exemplos que nos contam, sempre atrelam o fator tempo quando tentam nos animar... quer ver?! Chega um e diz: conheço uma pessoa que passou por este "problema", muito parecido com o seu caso, e já faz mais de 10 anos... tá bonzinho!
Para quem está passando pelo mesmo "caso" parece ser um consolo saber que pode ser repetido em si essa mesma "sorte" então, sem querer, nos pegamos fazendo planos para os próximos 10 anos... É incrível a confusão que fica na nossa cabeça, estamos condenados a partir nesse período de tempo? Cai por terra o sonho de ultrapassar a barreira dos setenta, oitenta... Cem anos, nem pensar mais. E eu que queria 120 anos... risos
Voltando para a cadeira de Ana Vitória, faço as contas e vou ganhando ai um bom tempo, afinal ela só tem três meses e imagino que dela faça uso (e eu possa ver) plenamente quando completar dois aninhos... como disse rabiscando, pintando o sete! Para alegria do seu vovô!
Depois da cadeira, vou pensar no que devo inventar mais!

2 comentários:

Unknown disse...

Tio,
outro dia esse seu post foi tema de discussão de uma de minhas aulas na universidade, quando discutimos sobre como lidar com o paciente que tem CA! Pra mim a experiência - a discussão - foi um tanto diferenciada porque não se trata de um paciente a pessoa que tive como referencial para desenvolver meus novos conceitos, se tratava do MEU TIO..o senhor não tem noção da implicação que isto tem em minha vida tanto pessoal quanto profissional..tenho que fazer um relatório discutindo isso, e assim que pronto envio para o senhor, ok?! Quero pedir sua autorização, inclusive, para usar algumas passagens de seus posts..
Fik com Deus,tio!
Bjos

Edson Leite disse...

Olá Ligiana, fique a vontade para usar as postagens desse meu blog. Estou curioso pelo relatório, fico contente por estar contribuindo de alguma nessas discussões científicas. Fiquem com Deus!