domingo, 31 de maio de 2009

A UTI por dentro

Duas foram as passagens por Unidade de Terapia Intensiva em menos de seis meses. A primeira delas foi logo após a cirurgia e demorou menos de 48 horas e foi de rotina, segundo o médico cirugião. Para evitar surpresas desagradáveis, devido ao porte da cirurgia realizada.
Hoje passados esse tempo todo, ainda conservo na memória os momentos mais marcantes. O local era bastante frio, som de aparelhos em funcionamento e das conversas dos intensivistas - quebrados apenas pelos lamentos ou gemidos de alguns que estavam conscientes. Na primeira noite não consegui dormir muito, durante a madrugada percebi que a chegada de um homem infartado movimentou bastante a equipe de plantão. Aquele homem estava trabalhando quando sentiu-se mal e foi socorrido pelo SAMU. Acomodado num dos leitos próximo ao que eu estava, pude ouvir todos os seus lamentos - dava a impressão de que ele temia morrer naquela madrugada. Vi o dia clarear, não conseguia dormir. O homem infartado continuava internado, mas pelos comentários estava fora do risco de morte. Os gemidos da noite pareciam ter diminuído, mas o bip... bip... continuava soando acima da minha cabeça. Com esforço pude visualizar o aparelho e constatei ser um monitor multiparâmetro - serve para controlar diversos sinais vitais do nosso corpo. Em um dos meus dedos estava preso um sensor e outros fios estavam me ligando aquela máquina.
Não me dei conta de que tinha ainda preso ao meu corpo uma sonda para coletar a secreção da cirurgia - estava ao meu lado direito, unida através de uma mangueira de silicone que entrava na minha barriga, na altura do umbigo. E uma sonda uretral, para coletar a urina que de forma involuntária ia se acumulando no recipiente colocado abaixo da cama.
Tinha também um catéter costurado na base do meu nariz que por ali descia garganta abaixo. Por este catéter eu iria receber as primeiras refeições líquidas após a cirurgia. Tive que suportar aquele incômodo durante quatro dias e não teve a menor serventia. Não foi utilizado por conta de uma falha da equipe que o colocou... não retiraram o filete que corre internamente, uma espécie de "guia" que deve ser retirado logo após a sua colocação. Como isso não havia sido feito tornou inviável o uso do catéter. O cirurgião teve que alterar os planos da realimentação. Nada que me trouxesse prejuízos maiores, graças a deus. Só fiquei sabendo do seu tamanho real - até onde ia - quando da sua retirada. O negócio ia até dentro do estômago... coisa de mais meio metro. Horrível na hora da retirada, mas sobrevivi... até parece que importa mesmo o tamanho de um catéter... nós é que pintamos a cor do bicho!
De todos os momentos na UTI, um deixou marcas pela sensação de impotência que representou. Ao mesmo tempo que tentei pensar naquilo como uma coisa hilárica. Foi na hora do banho. Duas auxiliares de enfermagem chegaram fechando as cortinas e falando: - Vamos dar um banho no senhor! Não sei se gelei pelo frio do ambiente ou pelo constrangimento de me ver ali tendo os lençóis arrancados e me deixando todo exposto aos olhares daquelas duas pessoas estranhas. Admirei o profissionalismo e a técnica de higienizar um paciente em cima de um leito. Para que não fiquem imaginando a cena, vou descrevê-la mesmo. Não jogam água de balde, usam toalhas molhadas que vão passando pelo corpo. Na hora de secar a cama, rolam o paciente para um lado da cama... retiram os lençóis molhados e já colocam um lençol seco no seu lugar... fazendo com que o paciente role de volta, até que seja trocada toda a roupa de cama e o paciente esteja parecendo que tomou um banho de chuveiro. Um boneco nas mãos hábeis daquelas profissionais. Muito bom saber que existem pessoas abnegadas que gostam de cuidar de enfermos.
Era uma UTI bastante animada. A conversa rolava solta, nem parecia que estavam tratando de pessoas de forma intensiva...
A segunda permanência na UTI fica para depois, será contada no nosso próximo encontro. Viu como nem sempre entrar na UTI é colocar o pé na cova?! Estou aqui relembrando e contando como foram essas experiências.

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