Na capital federal

Desta vez estou bem longe de casa, vim parar na capital do Brasil. Neste momento com bastante saudades dos meus que ficaram lá, sinto falta de casa, da minha caminha e do cuidado que Jack dispensa a minha pessoa. Da mesma forma sinto saudades do almoço diário com os meus pais, sei que a minha mãe fica muito preocupada comigo durante as minhas ausências. Mas, tudo é passageiro e amanhã estarei de volta!

Afinal, o que vim fazer aqui? Não foi para sentir estava terrível sensação provocada pela baixa umidade do ar. Uma loucura o clima daqui neste período do ano, vento frio, a altas temperaturas, pode isso? Só sentindo na pele para saber o quão é desagradável. Ao meu lado uma garrafa dágua e ao alcanse das mãos o batom... calma, o batom é na verdade a bisnaga de manteiga de cacau na embalagem de batom! Acredite, aprendi a usar esta ferramenta. Passo nos lábios e depois movimento os mesmos para que a manteiga de cacau fique bastante espalhada para evitar o ressecamento.

Agora, respondendo a pergunta acima. Vim para participar do IV Encontro Nacional de Peculistas, gerido pela mesma Fundação que administra o nosso plano de saúde. O pecúlio é um produto de caráter previdenciário, do qual sou participante desde 1985, cuja prêmio é pago aos nossos beneficiários indicados e que pode ser resgatado 20% dele no momento da aposentadoria, ou para os com idade igual ou superior a 80 anos (desde que acompanhados dos pais... hehehehehe) ou ainda no caso de ser portador de AIDS. Para participar deste encontro nacional é preciso ser eleito em assembléia específica em cada um dos estados, com direito a três representantes (uma espécie de mini-senado, cuja diferença é não termos nenhum poder...)

A minha participação se deu de forma atípica, como não participei da assembléia devido ter ocorrido em data que o tratamento inviabilizou a minha presença, foi praticamente por minha própria conta e risco. A minha participação era necessária, estamos reivindicando que uma das possibilidades para ocorrer o resgate em vida seja nos casos das doenças invalidantes - previstas na legislação previdenciária - e o câncer estar naturalmente incluído neste rol. Apesar de ter sido bem recebido pela maioria dos participantes e pelos organizadores do evento (afinal, nos últimos 15 anos eu vinha participando efetivamente de outros encontros nacionais, tendo inclusive lutado muito para que a entidade custeasse estes encontros de peculistas e já estamos no quarto dele...), não pude ser enquadrado em nenhuma das modalidades de participantes - delegado ou obsevador - portanto, fiquei durante todo o evento sem poder me pronunciar... Isso, porém, foi tirado literalmente de letra... usei do papel e da caneta para levar a nossa proposta em forma de carta aberta. Poderia ter enviado por e-mail, mas não surtiria o efeito desejado - que era o de chocar mesmo! Mostrar pra eles, da direção da Fundação, que as doenças são reais, que as pessoas adoecem de verdade e não podemos esquecer de zelar pelos nossos direitos se encontramos brechas na lei - por que somente os portadores de AIDS podem resgatar o pecúlio e nos demais casos não pode?!

Tem sido uma luta grande travada com esta Fundação, sempre na defesa do interesse dos assistidos, seja na área do plano de saúde ou, neste caso, na defesa do resgate em vida do pecúlio - do dinheiro que é nosso e faz falta face as despesas médicas e outras decorrentes de qualquer doença agravada.

Só espero que a minha vinda seja de alguma forma proveitosa para o coletivo, me senti o verdadeiro Gandhi que defendeu a India num congresso sem falar uma palavra, a sua palestra foi realizada justo no dia no qual ele jejuava de palavras!!!

Bom, falei demais já. Ficarei por aqui por mais algumas horas e amanhã estarei em casa, se Deus assim permitir. Fiquem na paz! Amém.