Outro dia solicitei das pessoas que estão sempre este blog textos para serem publicados aqui, considerando que há muito tenho mudado o foco inicial das minhas escritas, numa demonstração de que estou 'vivendo' todos os momentos da minha vida da maneira que estou podendo sem ficar focado na doença que também é real, embora acreditando na misericórida divina de que o 'meu tempo' não ainda está delimitado.
Pois bem, tenho recebido vários textos - um deles já foi postado aqui - e hoje recebi um texto de autoria do Rubem Alves, achei-o super interessante e cabe bem no contexto desse final de ano, quando para muita gente é um momento de prestação de contas, participações em reuniões de trabalho e em muitas dessas pessoas aflora o sentimento da vaidade, do querer mostrar a sua superioridade nas tarefas desenvolvidas ao longo do ano que está terminando. Outras pessoas surgem com idéias mirabolantes a serem executadas a partir do próximo ano. E por ai vai.
Pois bem, tenho recebido vários textos - um deles já foi postado aqui - e hoje recebi um texto de autoria do Rubem Alves, achei-o super interessante e cabe bem no contexto desse final de ano, quando para muita gente é um momento de prestação de contas, participações em reuniões de trabalho e em muitas dessas pessoas aflora o sentimento da vaidade, do querer mostrar a sua superioridade nas tarefas desenvolvidas ao longo do ano que está terminando. Outras pessoas surgem com idéias mirabolantes a serem executadas a partir do próximo ano. E por ai vai.
O texto cabe também para as demais pessoas, independentemente de estarem envolvidas com esse tipo de atividade a que me referi acima. O Tempo e as Jabuticabas é um presente para os que gostam de textos(1) para reflexão.
O TEMPO E AS JABUTICABAS
'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.' O essencial faz a vida valer a pena.
Rubem Alves
(1) Enviado por Vânia Sueli
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