Venci o primeiro round. Hoje não tive que tomar nenhum comprimido de Xeloda... eram três pela manhã e três à noite, nos últimos quatorze dias. Durante os próximos sete dias estarei livre desse compromisso. O meu organismo estar bombardeado pelos quimioterápicos, afinal foi o coquetel via endevenosa e esta proção toda de comprimidos. Graças ao meu bom Deus, foram poucos os momentos desagradáveis decorrentes das famosas reações. Em cima da minha mesa de trabalho deixei exposto um comprimido para debelar a sensação de enjoo, ali ele ficou e servirá para a próxima etapa que iniciará no próximo dia 11.
No trânsito, ao passar em frente ao hospital no qual fui operado pela última vez, avistei o meu médico cirurgião na faixa de pedestre atravessando a rua, a pé, ele deveria estar indo para mais uma cirurgia. Com o trânsito livre foi possível dar paradinha (fora da faixa) para cumprimentá-lo com um aperto de mão. Senti-me tranquilo, estava diante de um dos instrumentos de Deus, particularmente, de um grande homem que, por coincidência da vida, foi meu aluno quando era ainda um menino. Nem imaginávamos que anos depois teríamos essa relação aluno/professor transformada em médico/paciente.
A vida é isso, uma caixa de surpresas. De repente tudo pode mudar, provocando uma guinada brusca na nossa trajetória. Ainda hoje, no almoço na casa dos meus pais, estive com uma pessoa da família que teve a sua rotina de vida totalmente alterada de uma hora para outra. Morava no interior do Ceará, vida tranquila, afazeres normais e assim do nada, estão aqui de passagem, mudando de cidade, tendo que deixar pra trás toda uma vida. Comentei com ela sobre essas surpresas que a vida, muitas vezes, nos favorece. Assim, também foi comigo, no tocante, claro, ao estado de saúde.
De repente uma dor forte, exames, diagnósticos, cirurgias, tratamentos, mudando definitivamente toda a trajetória da minha vida. Estou fazendo a quimioterapia para debelar a recidiva do fígado e na minha cabeça vem o fato de que ao vencer esta etapa terei que enfrentar a iodoterapia... Isso, quero sim ter que passar pelo iodo. Chegar lá é ter vencido os dois rounds que tenho pela frente na fase atual em que se encontram as coisas. Venver estes rounds é ter a certeza de que poderei tentar obter a vitória tendo o iodo como aliado.
É assim que vejo esses elementos (quimio e iodo), como aliados nessa luta que não digo ser injusta (posso dizer indesejada). Não temos o direito de questionar se é justo ou não ter que passar por isso. Não sou melhor que ninguém para fazer este tipo de questionamento, se uma criança, inocente por natureza, nasce com problemas de saúde, muitas vezes convivendo assim por toda uma vida... por que eu estaria livre ou imune a tudo isso?
Para concluir por hoje, quero dizer que ao longo desses dois últimos anos tenho aprendido muita coisa e visto o mundo e as pessoas de modo mais aprimorado. Posso até não estar tendo a capacidade de externar esse novo aprendizado, mas sinto que mudei, amadureci e cresci muito. Quero continuar crescendo aqui mesmo, com todas as falhas e as suas consequências. Para isso estou me defendendo como posso e assim será enquanto fôlego houver. Amém.
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